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O desejo da morte de forma romântica e poética.




Por De Assis Teixeira 

Eu preciso confessar: ao ouvir essa música do grupo Reflexão.  Dizem que  essa música é de um rondoniense. Senti como se cada verso abrisse uma fresta dentro dos corações amargurados e desesperançoso com o amor. 


Há canções que não apenas tocam , elas rasgam, iluminam, revelam e esta, com sua melancolia sublime, me fez refletir profundamente sobre a genialidade de quem consegue transformar dor, amor e morte em pura poesia.


“Eu já não sei mais

Por que vivo a sofrer,

Pois eu nada fiz

Para merecer.”



Assim se inicia o lamento que carrega o peso de tantas vidas. Esses versos não pertencem a uma única pessoa, eles representam todos aqueles que, um dia, tentaram amar e encontraram apenas silêncio. 


A música converte o sofrimento comum em arte, como se desse voz ao coração humano em sua forma mais vulnerável.


“Te dei carinho, amor,

Em troca ganhei ingratidão.

Não sei porquê, mas acho

Que é falta de compreensão.”


Nesse trecho, expõe-se a ferida universal,  a entrega que não retorna, o afeto que se perde no vazio,a poesia revela o eterno paradoxo do amor  oferecer tudo e receber tão pouco é a tragédia mais antiga da humanidade, reinterpretada com sensibilidade quase divina.


“Você me tem como réu,

O culpado e o ladrão

Por tentar ganhar seu coração.”


Aqui surge a imagem da injustiça emocional do amante transformado em réu por ousar sentir o compositor captura esse drama com delicadeza impressionante, traduzindo em melodia a dor de ser acusado pelo simples ato de amar.


“Todo mundo erra sempre,

Todo mundo vai errar.

Não sei porquê, meu Deus,

Sozinho eu vivo a penar.”



A solidão se instala como personagem principal, não é apenas tristeza,  é constatação da condição humana.  A música reflete sobre o erro, a falta, o fardo de existir e faz isso com uma beleza que só a arte é capaz de suportar.


“Vou me embora agora...

Vou embora pra outro planeta,

Na velocidade da luz,

Ou quem sabe de um cometa.”


Neste momento, o sentimento se desprende da terra, a fuga deixa de ser humana e se torna cósmica, é como se o coração dissesse: já não pertenço ao mundo que me negou o amor. A metáfora do planeta desconhecido é o grito silencioso daqueles que desejam desaparecer apenas para não doer tanto.


“Eu vou solitário e frio

Onde a morte me aqueça.”


Aqui reside a maior genialidade da composição, a inversão dos sentidos a morte, tradicionalmente gelada, torna-se calor e acolhimento. Não é apologia ao fim, mas uma metáfora de descanso, o calor da morte é o alívio simbólico da exaustão do amor não correspondido.



“Talvez assim, de uma vez,

Para sempre eu lhe esqueça.”


O verso final é um suspiro  não de desistência, mas de libertação impossível, esquecer, para quem ama, é tarefa mais árdua que qualquer viagem interestelar, e justamente por isso a música permanece viva, porque traduz essa luta silenciosa que tantos travam dentro de si.


A crônica da canção transforma o impossível em poesia e consegue a proeza de falar de morte, de amor e de suicídio ,  com uma beleza que desalinha a alma, expõe o conflito entre existir e sentir, entre amar e sobreviver, entre querer ficar e precisar partir.


O amor, mostrado na música, é sublime e cruel. É eterno para quem insiste em vivê-lo, mesmo quando se torna uma ferida aberta, a música revela que a morte, na verdade, não é o fim  é apenas o descanso imaginário de quem já não encontra lugar no coração alheio.

E é nessa verdade amarga, profunda e encantadora

que a obra se torna imortal.

 

E tenho dito

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